quinta-feira, 21 de novembro de 2013

À mão.

As vidas são barbantes de milhões e milhas de mundos, novelo de cabeças que nem nasceram ainda. A vontade parte de nós não do que pensamos, não do lugar, fazer por fazer fazendo... indo... indo a dentro, corda a dentro, pele a dentro, corpo a dentro...É imenso, imensidão de coisas misturadas nas linhas. O lixo é uma imensidão de coisas misturadas, amores, cores e merda, nada é difícil, a perna o braço, os ouvidos ouvem sempre mas não percebemos. E foi assim, um dia de mundos dentro de uma boca cheia de linha, mastigo as linhas do mundo com uma perna podre, dentes amarelos e olhos fechados. Pensar é uma fração de segundo de relógio parado. Meu amor é intenso como uma corda no pescoço, asfixia o cérebro e tira o pouco de sangue que resta do resto. Tem uma veia na cabeça que solta saltando agora. La no meio morremos duas vezes, matamos para fazer nascer, mas o nascido não retorna ao dentro, fica uma coisa estranha que mistura e range os dentes. Tiram a música de faca da pele cortante de linhas faca. Ninguém viu o sofrimento do parto de palco piso no chão. É só uma saudade só. O corpo estava vazio, cochilei aqui, mas foi só uma piscadela, cochilei  novamente e a caneta foi parar no cochilo. Só há um sono, tão intenso que não deixa duvidas de sono, morremos nele, quem dera morrer sonhando...A loucura é relativa, eu também, ele ainda não fala.

sábado, 16 de novembro de 2013

Aqui jaz... uma légua de línguas,
Jaz... um mundo de gente passada.
Jaz... o dia velho,
Jaz... o que nem chegou a ser,
... um nascituro,
... as covas dos berços,
E os braços... 
E foram braços barcos...

Embarco.


quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Diário de trabalho: Uerla Cadoso /18.09.2013

Quando se deita com o corpo mole o solo vira água e chacoalha tudo o que é órgão, que é pele. Não se sabe quando começou, as vezes nunca começa nada, é um eterno andar para o desconhecido, eterno sem rumo. Hoje e ontem foi sem tempo, sem chegada em lugar nenhum, tem sempre um vulcão interno aqui, mas a chave as vezes não encaixa, não parte, não abre nada. O fogo chega à pele mas retorna ao sono no pé da letra. Nunca foi um não querer, mas um não conseguir queimar o coro sempre. Se não há quem sopre a chama, não há quentura, não há faísca, é um eterno limbo de imobilidade. A cabeça chega primeiro ao ponto de ônibus. Somos corpo! tem uma imensidão engavetada atrás do umbigo. Dançamos nas alturas com saias negras... tem um mar nos corpos que borbulham água salgada, fica um sal de dentro pra fora. Rugas são salgadas, sinto que não enruguei agora, não houve dor. Se não sente onde se toca está morto. Atravessar o breu com um bife de sobra de tom amarelo... há quem diga que tem dia na noite. Deveria voltar, não tem coração aqui, é um escrever e um sair de grma velho. Não tem palavras que expliquem o que se sente ou a falta de sentido das coisas. Mais uma morte! Será que falta outra parte? outra saudade "irrecordável"? Era uma toda vontade debaixo do barco, resguardada em silêncio. Tem um vazio aqui desde que saiu de casa, as pessoas gostam de saudade. Ele tem belas palavras, ela tem a falta de letras, só há um rabisco e um bolo de coisa indefinida...é um choro na garganta que vem de vez em quando, parte do meio, mas não há motivo para desabamento de águas. Aqui é passagem, evapora o que não serve e impregna a matéria da constância. Suar é um devir!

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Diário de trabalho: Saulus Castro - 23.09.2013

... o parto, o navegar sobre o barco-túmulo que mantém o percurso da vida nas águas do...
Do quê? Eu não sei a palavra. Agora, aqui, chamarei de infinito.


quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Devir

Quanto mais passa o tempo mais travam as explicações do porque estar nessa arte. Sempre faltam as palavras, quem dirá às belas palavras, talvez essas ultimas nunca cheguem a essa boca... É melhor ficar em silêncio para não dizer asneiras. O paradeiro constante do corpo no tempo talvez seja reconhecimento, não anti-social, nem diferente, mas uma pausa exausta de um constante “Devir”, uma respiração da cabeça... De tanto ver e achar que ver, os olhos um dia adoecem, tem muita poeira neste mundo de meu deus, é muita chaga que não sara, cultivamos nossas próprias chagas, e temos a vaga impressão de andar no coração alheio...

Tão jovem e a pele já é moribunda da sede da carne, os sentimentos que perpassam esse corpo são tão passageiros como os transeuntes. As vezes fica um abraço, uma palavra, ou só um olho mesmo... e fica uma saudade leve das coisas que ficaram lá atrás, das brincadeiras e pão de forma, a forma de uma mão e um traço do rosto de algum deles. Quase todos os dias aparecem novas mensagens de mudança, cada toque não atendido é a impressão de uma notícia que se adia a chegar. Fica do lado de cá uma ânsia de mãos atadas, uma vontade de estar nos dois lugares, partir-se para unir-se a si mesmo, um beijo que devia ser dado. 

domingo, 8 de setembro de 2013

[meu] Castelo de Holstebro

Sobre o som de um corpo que cai
Sobre o som das últimas palavras que ainda não foram ditas
Sobre as plumas que prendem os rios que descem dali
Dali onde não se tem coragem de tocar o mundo
Eu quis me conhecer
Sobre os risos das línguas do mundo
Sobre o mundo que não ri há muito tempo
Sobre até sobre a saudade, palavra dos descaminhos
Guatemala que te quiero
Sobre o som do corpo no pé do céu.
Sobre até sobre o céu.
Da clara manhã que não se canta
Da cor e noite tarde
"Liberdade"
Vontade de estar em muitos lugares do passado
Vontade de não passar:
veia, veio, vinho.
De algum lugar, Padã Arã, Canadá
De lá das dores não salvas
mas de mares, males, malês
Acontece que o acontecido não fica pra trás
Ninguém sabe o que quer ser nessa vida
E é fácil dizer não com essa falsa coragem
Viagens e bagagens de esquecimento
de si, do mundo.
Diamantes do céu, canções esquecidas
Não sei falar a tua língua
morta, joaninha, valsa
Nem me importo em saber.
Prefiro ficar assim, à míngua, cavalgo torto.
Não sei falar muita coisa de tanto
Agente fica assim, nesse silêncio.
Encontrar-te neste vale dos perdidos é saboroso,
surpreende sempre,
como o sal que desce dos olhos, tempera o labor.
Existem portas que não são
Existe até...
Existe um trovador de noite aguda,
de noite adentro, de noite aqui.
Existe o que se escreve para nada,
para estrada e para quando se pensa em dormir
Aqui eu morro. Só lembro de horas na porta do inferno:
bons diabos!
A gente, na verdade, nunca sabe quando volta.
Desse frio pouco sabia,
da incandescência.
Não sei dizer não ao que é do corpo.
Não sei dizer muito.
Não sei muito.
Sei que existe uma coisa chamada calendário.
Sei que existe um mistério.
E, talvez, isso seja o mesmo que não saber.
Existe uma coisa chamada desejo
Existem os palhaços e existem os poetas.
  Existe uma luz que é escuro.

                                 





Aqui, de voltas e volta. Ao Norte do mundo girei em torno de mim, por dentro. 
Intensidade. O que fica: trabalho, disciplina e aquela palavra que sempre escapa, que não existe para nós.
E que seja, mesmo, de silêncio.
Mais uma vez, estamos agraciados, agradecidos pela predisposição de todos os que puderam contribuir.
Continuemos o trabalho que nos une, que nos engrandece. Grandeza que não daqui.

Caminhemos!


"Sete vezes à terra, oito vezes de pé."
                                    Eugenio Barba



segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Gratidão!

Amanhã nosso ator Saulus Castro do coletivo Duo estará no Odin Week festival, em Hostebro Dinamarca, que ocorrerá entre os dias 19 e 29 de Agosto. É um prazer saber que alguém do coletivo estará presente em um festival realizado por um grupo com tanta relevância para a pesquisa e desenvolvimento do trabalho do ator, o (Odin Teatret). Agradecemos imensamente a contribuição de todos que de alguma forma possibilitaram essa viagem, que abriram essas “gavetas”. Tenha uma boa colheita nessas terras parceiro!


domingo, 11 de agosto de 2013

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Ninguém sabe o que quer ser nessa vida.

Diário de trabalho: Saulus Castro - 03.07.2013

Chegou-se a um lugar, fim de viagem, de encontros. Chegou-se, e ninguém sabe o que quer ser nessa vida, é a primeira ideia que cruza o momento, sobre a gaveta de tantos guardados, sobre a mala de tantas viagens, chegou-se ao lugar dos ombros e das cabeças caídas, o olhar pro chão, o céu é chão, não passa dos nossos pés; e isso é impulso ou prisão. Ficou um cheiro de dinheiro nas mãos, metal, e o cheiro de cabelo no meu olho. As malas me carregam, estas tantas coisas rangindo dentro peito adentro; o peso sou eu. Tudo o que apodrece volta sendo adubo ou sendo pus.



terça-feira, 16 de julho de 2013

Diário de trabalho: Saulus Castro - 05.06.2013



Era para andar num não-chão. Num lugar último. Tudo o que conecta é parcial. Ligações singelas não são daqui, não são visíveis. Eu vi o fim do filho, guardado com tanto carinho, contanto, não suficiente. Eu vi a via de ligação separar o nosso, o querer nosso dividindo, deixando asfaltos intrafegáveis; eu vi a fuga e a alegria que não transbordava. Aconteceu da via desviar, virar torto destino e rumo, enviesar olhar distraído e desaliviar ardores de coração. Era luta e ganho e era indefinível qual dos véus primeiro sucumbiria. Quebrou-se a via movediça, extrapolou-se o limite do “aqui”, era de escada e escuridão, de uma janela enorme que se deslizava para o laranja cobertor de pássaros. Uma figura que testemunhava a dor da gente. A porta aberta, o canto habitado, era de aranhas e veneno. O filhinho vinha nos braços, dormia. Ela o ergueu. A via o ventilava lá pra cima. O lance era próximo. Mas, foi de chão, de golpe oco. Era som de garganta esfacelando. Minha? Era o habitar-se em si.


quarta-feira, 3 de julho de 2013

Gaveta



De tanto rebocar tijolos com unhas pontiagudas um olho menino desaguou no ombro magro da moça, e riu para si admirado com o mundo, e disse fundo o que de dentro saia, “Ninguém sabe o que quer ser na vida”. Da ida e vinda pouco importa, dizem que o meio é o melhor ponto, nunca começa nem esgota. Mas ela sempre fica com olhos mortos e cochila num ombro menino de quem pouco conhecia, teme a queda que desperta e sente o resto do que havia. Quando cresce se perde o mundo, parece que esta tudo na ponta do nariz, ou no cheiro suado de cabelo molhado que de obro carecia.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Um bem


Corpos sob pano de cabeças. Quentes lentes coladas. Suor de pelos siameses é assim, de pele mole e coração destinto, é assim, de breves pingos de chuva sobre couro, uns mouros tortos e um bem-querer de perto em guerra de cabeças, de umbigos recém nascidos.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Corte

O inesperado corte, inusitado. Agora sobe um morrinho sob o olho. A mente, mente, mente... Quem sabe é o corpo, sobre o corpo. Depois deduz, deus, dúzias, dízimos... Um Yakub recém decorado, um traço feito a ponta de garrafa ou unha, de alguém querido; uma mão ou pata marca a pele. O filme pára, o sangue corre. Recorte para reconhecer. Um Yakub recém decorado, não é Zana?



domingo, 16 de junho de 2013

Diário de trabalho: Uerla Cardoso. 15/05/2013

Zunido


Ele é desesperado, parece que está se lamentando o tempo todo, tem medo de si, conversa com outro em si, talvez seu oposto. Vários mundo dentro dele, outros seres vez por outra saem, dizem o querem dizer e vão embora. Nasceu do nada, vazio, vazio... sem caber nenhuma gota. Má formação ri do próprio choro, do ridículo, chora do próprio riso.  É acumulo ou seco? escuta sua lástima resto de parição dentro do pote. Vi um feto do tamanho de meu polegar no quarto de minha tia quando criança, ele tinha um nome, não me recordo direito, mas se chamava alguma coisa. Defunto que não nasceu, defunto dentro do corpo, dentro do copo, mas tinha um nome, foi batizado antes de se conceber humano, foi um pedacinho perfeito de carne, imperfeito na sorte. As imagens se vão por muito tempo, bastou te permitir a mim que me veio esta lembrança como se fosse hoje...O teatro tem dessas coisas mesmo, permitir que retorne as lembranças esquecidas. Tu cantarola, ele cantarola tanto, é sozinho com os zumbidos. Qual a margem do teu choro? O fundo do teu riso, e tuas travessuras? Não move nada e parece viajar nas estrelas. É uma vontade de gritar que tem, está preso, amarrado nas pragas, nas cordas, nos dentes. O menino de dentro... Será criança? Será nascido? Será feto? Será vivo? Será morte? O corpo precisa parir, abrir, estender... talvez não precise. Ele vê alguém estendido lá fora, outra figura habita o mesmo lugar. O choro alivia, a coriza salgada também, está coberto de suor. O homem de pés de pato que pendura coisas nos galhos, está seco, caminha leve sobre nuvens. É mau ou bom? É bicho? a unica coisa nítida é “cala a boa”, no meu de um tudo de mundo. Onde encaixar a criatura em história de caboclas, homens e mulheres de filhos, é só uma criatura! Será o útero de Zana? Semente torta de Halim?! Um dos grandes homens não é grande, só existe um primogênito, não é o que ri chorando com a própria sombra.

sábado, 15 de junho de 2013

Diário de trabalho: Uerla Cardoso. 12/06/2013

Vazou uma lágrima branca da pupila preta do olho direito dele.
Virou guerra de remos em canoa velha.
Morreu na praia um navio!

" Para atingir a verdade e o bem, deve-se libertar da sedução dos sentidos"

sexta-feira, 14 de junho de 2013

Diário de trabalho: Saulus Castro - 13.06.2013

A... a cor do rio... esse cabelo correndo da cabeça do mundo. Estão as duas dores, que nem sempre são. Isso que brota do olho também é rio, cabelo dos olhos. Uma gota não faz diferença na imensidão dormente. Um rosto em mente... perdia a força ou a mesma que volta e derruba gente. Nunca se sabe a dimensão de uma correnteza, nunca se sabe a direção de uma certeza. É água tudo, não importam os remos. Importa estar todo no fundo. E nunca se sabe se é água, ao certo. Vai estando. A cor do cabelo é rio, correndo do olho do mundo e cá fora toda água é frio. Nunca se sabe ao certo quem derramou a primeira dor. Isso que brota do peito é. Certo, não! Não há canoa pro tempo, é sempre naufrágio, nau frágil.

Às vezes é água e às vezes é pedra.




segunda-feira, 3 de junho de 2013

Diário de trabalho - Saulus Castro: 03.06.2013

Ficou uma resina que desceu do olho, não sabia exatamente onde estava. Não sabia o ponto, não sabia o que o corpo rezava. Havia algumas trincheiras que sobraram do pós-guerra. Havia dois mondrongos que dilaceraram o chão. Era o perdido e o inviável, o imóvel. a vontade de fazer algo além de respirar, algo além de ficar morto; o chão não era lona, não era terra. O chão é o que dilacera; era o desejo de tudo, não de imobilizar os sentidos, era a vontade de arremessar prédios contra tanques de guerra e um súbito suspiro das árvores mortas, das raízes das árvores mortas, que era terra e era chão, esvoaçavam galhos de soluços e invadia os ouvidos dos soldados, soldador. Era o que no mantinha na cegueira; era amor de mãe...

...

E hoje ficamos com mais uma morte; a morte já tem o cheiro da maresia dessa cidade. Mas não qualquer morte, uma morte parida à fórceps. Esperança dança...

 

quinta-feira, 25 de abril de 2013

terça-feira, 23 de abril de 2013

Belle-Ile-en-Mer

Tudo se move.
Tudo evolui, progride.
Tudo ricocheteia e reverbera.
De um ponto a outro, nada de linha reta.
De um porto a um porto, uma viagem.
Tudo se move, também eu!
A alegria e a tristeza, e também o embate.
Um ponto indeciso, desfocado, confuso, se desenha,
Ponto de convergências,
Tentação de um ponto fixo,
Numa calma de todas as paixões,
Ponto de apoio e ponto de chegada,
Naquilo que não tem nem começo, nem fim.
Nomeá-lo,
Torná-lo vivo,
Dar-lhe autoridade
Para compreender melhor aquilo que se move,
Para compreender melhor o Movimento.


Jacques Lecoq, Agosto de 1997.


segunda-feira, 22 de abril de 2013

Diário de trabalho: Saulus Castro - 12.04.2013

O velho dos montes entoa sua canção


Nas sete portas há soldados
Há sete vozes que conduzem
Há um rancor tão bem guardado
Em um dos sete corações

Há sete portas que resistem
Nenhuma canção que se traduz
Nas setes dores mais distantes
A desgraça tem escudos e brasões

Nas sete portas há soldados
Nenhum sabe o que os conduz
O último deles grita ao mundo
A promessa se fará sobre este chão

sábado, 13 de abril de 2013

Diário de trabalho: Saulus Castro - 12.04.2013

Ele disse ao menino invisível enquanto girava no alto do monte: à frente das setes portas a desgraça tem escudos e brasões.


sexta-feira, 12 de abril de 2013

Arco-íris!

Quando não há riso nos opostos o peso não flutua com as duas asas, uma só nem chega ao meio. A queda de Ícaro seria mais bela se as duas abrissem e fechassem com a mesma intensidade. Ele não precisa nem cair, basta que se mantenha no ar com asas de cera... nem alturas, nem profundezas, apenas no ar que bate nas folhas... Mantemo-nos nelas! há sempre uma surpresa no barco que encalha e nos remos que viram muletas. 

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Diário de trabalho: Saulus Castro - 01.04.2013

Começamos... o quê? Criancisse. Quem não? Imaginar a vida, imaginar a dança, mesmo o sonho, imaginar. Ver uma centelha, faísca a cada segundo, a gira, o fio, a folha, a verde... Brigar pra quê? São dois tiquititos de nuvem, chovendo e chovendo!


domingo, 3 de fevereiro de 2013

Um dia de morte...ou será de vida...? 27/01/2013


Beira de estrada...

Os ouvidos despertam na madrugada, os olhos mal piscam já se abrem ao susto de ouvir o som de algo que nunca tirou o sono. A voz, a notícia, o choro, a passagem, o desespero. Uma palavra traz consigo mil sensações, mil questões, inúmeros silêncios. Tudo trava, o fio de angustia percorre cada membro do corpo e se prende no peito, de lá ele não arreda, gruda, e parece apertar. Os olhos demoram marejar, a mente processa a mensagem, tudo parece cair, sensação estranha, os pés escorregam do chão, flutuam. Mas os olhar ainda está seco, e fica seco, trava a voz e as palavras não saem. Só vêm lembranças, inúmeras, milhares de palavras, imagens e gestos se misturam na memória. Toda uma vida parece passar entre os olhos. O consciente não aceita, insiste em permanecer estável, imóvel. A morte entra, suga o último ruído, traz o ultimo suspiro. Ela não tem mais mãe, e o pai também acabou de ir... O consolo se perdeu no brotar dessa manhã, no nascer desse sol. O tempo acaba a maquina desliga, o copo se deita, os olhos marejam sem entender, e antes que respinguem no travesseiro a água seca, vira pó, e as memórias tornam a se misturar. É um alivio apertado. Os dedos inquietos tentam falar com o distante. Vem o copo de café até a borda, o hálito de cachaça constante, a barba espinhosa que rala o rosto ao pedir a bênção, as mãos ásperas, o sorriso banguelo escutado de longe. Acabou-se o abraço sujo de barro, secou o beijo babado. Os olhos jamais viram a semente que cresceu longe. Tocou o sino, enterrou-se a face, abriu-se um mundo.

Fiandeira de destinos...


“Fiandeira por que fias? - fio fios contra o frio
Fiandeira pra quem fias? - fio fios pros meus filhos
Fiandeira com que fias? - com fieiras de três fios” 

sábado, 12 de janeiro de 2013

Diário de trabalho: Uerla Cardoso. 07/01/2013



É... eu me lembro, lembrou-me de muitas cores. Das estrelas sempre olho um  pouco, acho que elas limpam os cimentos dos olhos. Cimentam a pele em tecidos pendurados nos ares, nas asas... Quem me dera ter asas, se as tivesse nunca mais tocaria o chão, viveria nas nuvens, nos silêncios, nas galáxias, e de longe tudo veria, poderia mergulhar nas águas das pontes, nos rios sem peixes, nas sombras dos fetos inexistentes e já expirados. Conheço a foto, elas são as costas que nunca vejo as sobras dos meus pés, meu preto dos olhos que só enxergo no espelho. Não me pergunte o que faço aí, nem eu sei o que faço aqui, quanto mais aí. Pode ser meu refugio, a cabana de tolha de mesa, o choque e a queda da estante, as costas nas costas, o verso avesso. Tu tens muitas estrelas nos pés, o que fazes aqui? É sua casa? Não sabia que existiam casas nas estrelas, nem que amava as parreiras. Tem um doce lá embaixo, estás com fome? Desça nas entranhas do subsolo do mundo, atravesse as pernas da lua, coma quinhentas uvas, vomite as sombras das noites e pegue a comida. Só tem uma comida para duas barrigas verminosas. “Cuidado com as pontes, elas podem ser perigosas...” o vestido de manga caída também esconde perigo... Não se vê o cego nem se sente cego, só se vê estrelas azuis e vermelhas e o agouro que se escuta, a ladainha das palavras sobrepostas. Dê-me um pedaço! Não peço, minha fome vai para além de uma gota, a sede ultrapassa os mares e o tecido ofusca os meus olhos. Sabes quem eu sou? E quem tu és, tu sabes? Vem armar a barraca, já é tarde! Vai chover grilo das estantes... Quer a luneta? É bom falar na luneta, a voz sai bonita, parece profunda. Esconda-se aqui vem. As pontas das pontes são duras, o meio é mais mole, vamos para o meio. Olha! Pesquei tempo com luzes, luzes de tempos em tempos de luzes. Consegue ver? São muito pequeninos, só os mais apurados olhos conseguem ver, olhos sem lentes. Não tenho medo de cair da ponte, mas fiquei com medo de pegar uva, existe maldade em quem não come todas as uvas? Mas tem uvas que não são nossas... Não abarco barco furado nem embarco em furo de mar. Prefiro ficar a deriva na ponte, até que as correntezas levem as sobras de chocolates nos cantos de meu queixo. E me afete feito confeito de festa. 

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Diário de trabalho: Saulus Castro - 07/01/2013


Foi assim: havia pontes elevadas sobre um abismo desconhecido de matéria já pisada há muitos anos. Havia sangue pisado, chocolate pisado e havia muitas outras possibilidades de se pisar alguém. No entanto, mantínhamo-nos sobre todos os pés, sobre todo e qualquer chão de possibilidades. Caminhamos no impossível? Ainda não, acredito, mas bem longe de olhos estreitos. Sim, são olhos da amplidão dos mundos, dos muitos mundos conhecidos e desconhecidos. ‘Coisas futuras’? Que ‘Coisas futuras’? Futuro mesmo é esse agora ansioso, é a próxima transpiração – não de sal – de imagens, tempos, sombras, estrelas, mundos, órbitas, pontes, fotos, galáxias, infinitos, chocolate. Futuro de lá é a idéia que não veio. Aqui, “o que procuras, senhora?” “Estás pensando em algo?” Não! Soa lá do infindável: não! E deita para nada; põe fronha no travesseiro dos olhos, e deita-os para si querendo o de lá distante, o das estrelas e o de além das estrelas; querendo o de onde não teve início. São muitas pontes nestas rotas sobre a água seca, sob a roupa rota. Quantas horas gastei para tais pontes? O tempo de uma idéia. Pontes não se atravessam, mesmo; se permitem. Estas aqui são uma encruzilhada. Dois pontos saem, põem-se outros e 'inda são os mesmos. Os universos se acendem e inicia-se um lusco-fusco de vida e morte. Somos feitos para o mirar de alguém, e, antes de tudo, para os nossos desenredos; partindo do outro, de si, do inexistente, somos "vivedores de desenredos".
São sob um céu de folhas, aquelas árvores aéreas, - lembras? - fincando raízes no chão do céu e florescendo em verde anil; seus troncos sugam nuvens e chovem frutos cá pra nós. Mas ainda tocamos as folhas, atravessamos o véu dos divisores, do corte. "Cuidado com as pontes...". Atravessamos tantos objetos e tantas construções que não tem jeito: não tem fim. Daqui pra frente é quebrar paredes, pois se há pontes há estrelas, e elas estão em todos os lugares e as pescamos com a isca de tempo: são pescados de anos-luz, lá do fundo-longe, no "infundo". Olhamos para as estrelas como olhamos para os primeiros retratos, as primeiras imagens das crianças, quando ainda, nem crianças, mas um punhado de sombra-luz aquietado. "Estás procurando alguma coisa?" Nas folhas, nas fendas, nas fotos? "O que a senhora quer?" Eu tenho cabana de passar chuva sob uvas, e tenho renovadas dúvidas sobre o que te fazer esperar - esperas algo? Não tem jeito: sempre molho os pés, e fica essa sensação de que esses pés não são meus, e fica o cheiro do chão de terra na chuva passada ou é o cheiro da chuva que exala? Chuva só é chuva no chão! Uva pode voar e variar de cores e sabores.
Pensando bem, há um pouco de sonho nisso tudo, nestas costas amalgamadas, nesse olhar de céu, conjunto. Há uma voz que não cessa de dizer que o beijo dela é dele enquanto se tem os pés sobre o mundo, abarcando o mundo. São duas vozes. Tudo se torna dimensionável: as estrelas, o nascimento. Gastamos, nas sombras, as sobras do tempo. Encontramos fios de nós: no teto ou na telha, na 'vó' ou na velha que quis vê-la, num irmão que chora junto ou lança facão. Num barco virado, sem rumo, há sonho. Na merendeira ou num vestido de flores.
Foi assim!



domingo, 6 de janeiro de 2013

Diario de trabalho: Uerla Cardoso 04/01/2013




Reboco, reboque , cara torta, joelho torto, pescoço torto , buraco no ombro, que importa essa broca? Só não gostei do silencio, mas para que palavras não é? Não eu não gosto do silencio o tempo todo, ai que parceria passante, parece passada todo dia futuro e eu que canto torto em perna de torta em cara disso daquilo meu pouco importa, é, importa sim. Abre o dente pra mim, ri, enruga o olho... Se o bem fosse vitamina e o mal remédio amargoso, acho que o dia foi meio amargo, um chocolate amargo, hummm... que gostoso! É bom perceber assimetrias, até mesmo nas estrias das peles secas. Se não rires para mim, não darei sonho de valsa, posso até dançar uma valsa, mas sem salto, se não sair do estômago não ria. Eita ponte que desponta no peito, a pontada nem jeito tem, antes fosse um apontador de lápis que faz crescer ao mesmo tempo em que diminui. Hoje não tem subjetividade, tudo sai na lata, embora não curta enlatados, prefiro os frescos.  Tá, tudo bem, me agradaria mais se eu tivesse abraçado, na verdade não sei porque não abracei. Mas queria muito...