domingo, 13 de julho de 2014

Diário do corte: Saulus Castro


O tempo, meu velho, o tempo em que abrasávamos o corte no fogo de nossas línguas (porque aqui só temos elas para uma tradução imperfeita do imperfeito coração [que é carne e espírito]). Do instinto febril de quando não equilibrávamos as temperaturas de dentro e fora. Mas era curta a ferida. Hoje, não.
Também não é negar o corte, descartá-lo ou condená-lo. Isto já o afirma. Negar é a existência do sim, gerador e enleio.
E deriva, seu moço, não é a superação do corte, distante disso: reconexão. É o próprio corte na carne da alma. Mas, além. O reconhecimento da possibilidade, ou mesmo necessidade de ir além. E este além é, consoante, um precário estar agrário.



deriva



segunda-feira, 7 de julho de 2014

"deriva"


Fuga


Aqui o vento disfarça a queimação da pele, o enrugar-se, finge frio e espalha por sobre o corpo como água que deixa maleável tudo o que é sentido, represado.

Daqui avisto o mundo e suas infâmias, suas lâminas cortantes, seu afago e solfejo como quem definha sem perceber a morte dos sentidos.

Aqui embebo-me de tempo e derivo como silêncio nessas pedras postas em nuvens, este aposto substrato. O descaso com o próprio outro, o eu.

De todas as idas e vindas essa foi a que mais pesou a volta, não queria retornar a essas paragens, derivar de lá era como goso em silêncio... Não pude sentir saudades desse mar em duas vias.

A solidão carrega o dom de procriar universos longínquos e repletos, embora solitários.



quinta-feira, 3 de julho de 2014

Diário de Uerla Cardoso


Não sei conceber em palavras muito de muitas coisas,
apenas sinto, e isso é gritante em meu dentro.


"deriva"