segunda-feira, 13 de julho de 2015

Diário de um desassossego: escrito I (Junho de 2015)




Sim é isto!
Este ciclo cromático de cores incandescentes,
Essa indecência exposta
Esse exonerar-se seco e vivo
Este lado trêmulo,
Preâmbulo de coisas traseiras, atrasadas, trespassadas.

Sim é isto!
Uma roupagem decomposta
Um livro sob a cama uma água sobre a boca
Gosto de águas quando correm

Sim ainda é isto!
Ser pluvioso e geometricamente curvo
Macio e deleitoso
Um abrir e fechar de bocas de pernas de portos
De beijo suavemente leve, vulcânico.
Como não poderia ser isto?
Como não poderia ser nesta casa?
Com este pé...
Este afago que entranha pele e vara vísceras
O despentear de cabelos dançantes
O encaracolar de linhas nascentes na cabeça
A leveza com que toca lábios.

Sim, quero isto e ainda quero.
Desejo escavar muros e abrir portas,
Massagear pontes que levam a nada
As palavras são assim, um devaneio...
Desejo por morte viva
Ânsia de tempo perdido e de vida afogada em entranhas de pele
Desejo a mão larva e de peso singeloso
A quentura de um corpo plácido, plasma.

Sim, ouço um zumbido!
Mas apenas o ouço, não o sinto.
Rói os tímpanos e afoga no cérebro o zumbir desta cidade
As asas da libélula levemente estragadas
Teu olhar estúpido pela brecha da porta,
E a intimidade de uma roupa intima sobre as cordas intocáveis de um velho instrumento.
Gosto de gente liquida e brevemente pedregosa,
Gosto do verdume das folhas que entram pela janela
E o cheiro desentoxicante de pele suja.
Como a do menino feridento de meus sonhos.

Penso por esse rio sangue que salta veias e ventoinhas
As lamúrias da velha mendiga tecedeira de vazios
Esse vivo sangue que brota entre pernas nos marcados 13 de cada mês
Essa espera atenta e ociosa por um sopro que conduz
Que desvirtua que desassossega.
Não se pode perturbar o que nasce sem senso
Esta mente inquieta e flácida anencefálica
Este desassossego de nascença

Sim, ainda é isto!
Por aqui mesmo em enleio teimo por respirar no meio
E tropeço na ironia de teus olhos levemente estúpidos que
Lançam-se à minha beira
Decido por ir
Por ficar ainda indo
Desejo não desejar nada
Só ter vazio
E esvaziar palavras para nada nem ninguém.

Só ser vazio.